quarta-feira, 17 de outubro de 2007

San Pedro de Atacama

16/08/07 (quinta-feira) – 14º dia – Purmamarca / San Pedro de Atacama:
Saímos cedo e pegamos a Ruta 52, que conecta a Província de Jujuy com o norte do Chile. Cruzamos a imponente Cuesta de Lipán, onde o asfalto serpenteia montanha acima até atingir 4.170 manm. Estávamos em pleno altiplano argentino e lá de cima tínhamos um visual fantástico dos Grandes Salares, uma majestosa paisagem de sal (fruto de mares ressecados pela ação do tempo e do sol) povoada por lhamas, vicunhas e flamingos. Paramos no meio daquele deserto branco para apreciar de perto aquele mundo de sal que mais parecia uma imensa colméia (hahahahah.......). Embaixo de todo esse mar de sal existe água e os nativos cavam buracos milimetricamente iguais e retiraram o sal para vender. Existe uma enorme quantidade desses buracos retangulares de água cristalina e gelada no Salar. Depois de algum tempo o sal se condensa novamente e é retirado para comercialização. Comprei uma escultura de sal em forma de cactos e voltamos para a estrada. Um bando de guanacos cruzou a rodovia bem na nossa frente nos obrigando a parar o carro. Ficamos observando-os por um bom tempo. Um pouco mais a frente um outro bando, agora de lhamas, nos obrigou novamente a parar. Ficamos muito felizes de termos tido a oportunidade de admirar essas criaturas maravilhosas tão de perto. Valeu “mãe natureza”! Logo adiante passamos por um rio completamente congelado e não resistimos a vontade de brincar dentro dele (risos). Ficamos algum tempo ali “esquiando sem esquis”, só com os pés deslizávamos pra lá e pra cá, rimos muito! Resolvemos parar enquanto não quebrávamos uma perna (risos). Chegamos ao povoado de Susques onde paramos para almoçar (frango, arroz e salada) e abastecer. Susques é um pequeno vilarejo com casas e ruas cor de terra e com uma igreja que data do ano de 1670. Na nave central pode-se apreciar pinturas do Cuzco peruano.
De volta a estrada já conseguíamos ver uma cadeia de vulcões apagados e tivemos nossa primeira visão das montanhas congeladas (yuhúúúúú.........). Logo em seguida a Laguna de Jama e o pequeno povoado de mesmo nome, que na realidade é o posto da Guarda Nacional, onde apresentamos os documentos necessários, legalizamos nossa saída da Argentina e ficamos sem saber o que fazer para legalizar nossa entrada no Chile. Nos disseram somente que tínhamos que fazer isso mais adiante, mas não explicaram onde exatamente. Tuuuuuuuuudo bem! VAMBOOOOOORAAAAAA!!!
Após passar o Paso Internacional de Jama ingressamos no território chileno assim, sem placa ou aviso nenhum. Ficamos decepcionadas pois queríamos tirar uma foto da placa “Bem-vindos ao Chile!” ou algo parecido. Coisa mais sem graça! (risos).
Ainda faltavam 266 km para chegar a San Pedro de Atacama quando avistamos a figura majestosa do vulcão Licancabur (5.950 m) e que nos acompanharia pelo resto da viagem até San Pedro, primeiro povoado do país.
“O Chile é um país vulcânico. Conta com aproximadamente 150 vulcões ativos que equivalem a 10% do total do planeta. Todos eles se encontram na Cordilheira dos Andes, que surgiu a aproximadamente 65 milhões de anos”.
Durante esses quilômetros a paisagem é deslumbrante, com lagoas quase que totalmente congeladas de um azul e esmeralda intensos e um frio de doer na alma. Neste trecho da estrada nosso carro quase não andava e nem conseguíamos passar a terceira, ia na segundinha e olha lá! Achávamos que estava com problemas e que ia nos deixar na mão. Paramos, descemos do carro e fomos surpreendidas por um vento muito forte que vinha de frente e foi aí que percebemos que a estrada era uma subida íngreme quase imperceptível aos nossos olhos pela formação da paisagem, que era uma reta a perder de vista margeada por uma areia marrom dos dois lados. Pra tirar as dúvidas demos meia volta e o carro foi que era uma beleza!!! (pra baixo todo santo ajuda! risos). Olhando assim ninguém diz que estamos subindo, ainda mais com um vento forte contra, lógico que o “golzinho 1000” não ia andar!!! hahahaha............ Foi assim, devagar quase parando, que chegamos nos altos daquela rodovia e tivemos nosso primeiro contato com a neve (yuhúúúúú........ curtimos muito!). Continuamos em frente agora numa descida constante em direção ao deserto, passando a poucos quilômetros da fronteira com a Bolívia. A paisagem foi se modificando, passando das lagoas deslumbrantes para uma paisagem desértica e harmoniosa, rodeada de areia e rochas que por momentos exibe uma estranha configuração lunar. Estávamos no deserto mais seco do mundo!
“O fenômeno ocorre porque as montanhas de 6.000 metros dos Andes não deixam passar a umidade vinda da bacia Amazônica. Caso isso acontecesse, as nuvens ainda teriam de vencer a Cordilheira de Domeyko, outra muralha natural, em território chileno, com altura média de 3.500 metros. Do outro lado, a oeste, uma grande área permanente de ar seco sobre o Oceano Pacífico impede a formação de chuvas. O resultado é um deserto de solo arenoso com mil quilômetros de extensão, que vai do norte do Chile até a fronteira com o Peru”.
“Essa composição climática é tão eficaz do ponto de vista da aridez - como demonstra o ardor nos olhos dos viajantes -, que os especialistas chamam o Atacama de deserto absoluto. Do ponto de vista climático, este é o lugar mais seco do planeta. Para se ter uma idéia, existe apenas um rio, o Loa, capaz de cruzar o deserto até desembocar no Pacífico. A média anual de precipitação não passa de 0,7 milímetros. Há locais onde as taxas de umidade beira o zero e outros que, ao menos desde quando as medições humanas vêm sendo feitas, jamais presenciaram chuva. São pontos onde até bactérias encontram dificuldade para sobreviver. Não há vida”.
Para piorar, o Atacama também é frio, pois se encontra numa altitude média de 2 mil metros e sobe bastante conforme caminha na direção do Altiplano. A temperatura, mesmo nos dias mais quentes, não ultrapassa os 25º (no deserto do Saara, na África, chega a 50º). No inverno, nos pontos acima dos 3.500 metros, neva. Isso mesmo, gelo no deserto.
Lá pelas 18 h (o fuso horário no Chile é de menos 1 hora) chegamos a San Pedro (2.400 manm)! conhecida como “A Capital Arqueológica do Chile”. Vivaaaaaaaaaaaaa............... Estávamos tão empolgadas que passamos batidas pela aduana e só fomos saber que era ali que tínhamos que regularizar nossa entrada no Chile quando já estávamos confortavelmente instaladas em uma pousada. Botamos tudo de volta no carro (na pressa e na confusão do momento, conseguimos quebrar nosso binóculo), voltamos até a aduana, preenchemos a papelada, nosso carro foi revistado (estavam atrás de algum alimento perecível, o que é proibido) e nos liberaram. Bem estranho essa aduana! (risos). Se quiséssemos, poderíamos ter deixado a maioria de nossas coisas na pousada e eles nem iam saber. Vai entender?!?!?!
Voltamos à pousada (agora devidamente regularizadas no país) para deixar o carro e saímos a pé à procura de um roteiro para o dia seguinte. Com ruelas sem asfalto e casinhas empoeiradas feitas de adobe, uma espécie de tijolo artesanal secado ao sol, San Pedro parece ter parado no tempo. As paredes das construções têm um acabamento feito com uma mistura de barro, palha e água. Como quase nunca chove, os telhados também são feitos dessa mistura ao invés de serem cobertos com telhas. As construções mais antigas, como a bela igreja da vila, construída em 1774, tem o teto elaborado com madeira de cactos gigante, uma planta típica da região. Hoje a extração dessa madeira é proibida para evitar sua extinção.
Pelas ruas estreitas e empoeiradas só víamos turistas de todos os lugares do planeta, em um burburinho de idiomas que se confundiam entre si. Entramos em várias agências de turismo que existem por todo canto e sentimos o peso de tantos turistas estrangeiros: o valor que eles cobram é meio salgado! Descobrimos então que poderíamos ir de carro. Era só seguir as vans que saem do centro da cidade todos os dias abarrotadas de turistas para os mais variados destinos. Optamos por fazer o passeio que nos levaria até o Salar de Atacama e as Lagunas Altiplanicas. Beleza! Roteiro definido, passamos em uma casa de câmbio para trocar alguns dólares por peso chileno (cotação: R$ 1,00 = CLP 248,80) e fomos jantar. Optamos por um prato de salmão acompanhado de um suco de laranja para tirar o pó da garganta. Virna voltou à pousada e eu fui atrás de algum lugar pra descarregar as máquinas. Quando cheguei na pousada Virna já ia a sono alto. Tomei um banho e cama... (essa também não tinha TV).
GASTOS pesos argentinos: (colocarei as despesas em peso argentino e no final uma somatória em reais):
12,00 – artesanato;
31,00 – almoço;
50,00 – posto Susques (3.729 km);
$ 93,00 = R$ 61,38

GASTOS pesos chilenos: (colocarei as despesas em peso chileno e no final uma somatória em reais):
15.000,00 – jantar + gorjeta:
2.000,00 – CDs;
25.000,00 – pousada;
CLP 42.000,00 = R$ 168,81
TOTAL = R$ 230,19 (sobrando 715,93).
GERAL = R$ 2.896,91

17/08/07 (sexta-feira) – 15º dia – San Pedro de Atacama:
Como na pousada eles não serviam o café da manhã (e estávamos pagando mais de R$ 100,00), decidimos sair dali e procurar um lugar mais barato pra ficar quando voltássemos do passeio. Acampar seria uma boa pedida, já que tínhamos trazido todos os apetrechos para isso e ainda não tínhamos tido a oportunidade de fazê-lo. Uma, pelo baixo custo da hospedagem até agora.
Enquanto fiz as malas, Virna foi ao mercado comprar nosso café que tomamos no quarto da pousada mesmo. Comparado aos outros, estava uma delícia! Ops!!! Prometi que não ia mais falar do café. (risos). Feito isso fomos atrás das vans na tentativa inútil de seguir uma delas, pois todas andavam que nem loucas pelas ruas estreitas da cidade, parando nos hotéis e pousadas para pegarem passageiros. Depois de muito rodar pra lá e pra cá resolvemos desistir e tentar a sorte sozinhas meixxxxxmo. Sabíamos que para chegar no Salar de Atacama tínhamos que seguir na direção da cidadezinha de Toconao, a 38 km de San Pedro e a 2.475 manm. Pegamos o mapa da cidade e lá fomos nós. Beleza! Estava tudo muito bem sinalizado e logo após a cidadezinha já havia placa indicativa nos dizendo a direção das Lagunas Chaxa. O visual do Salar e dessas lagoas em especial é de tirar o fôlego! Uma imensa planície de sal intercalada por lagoas de pouca profundidade com águas transparentes e esverdeadas repletas de flamingos cor-de-rosa. Será que era bonito?!?!?! O Salar do Atacama se diferencia dos Grandes Salares pelo formato. Enquanto o segundo é de uma textura branca e quase lisa, no Atacama pode-se observar crostas de sal com até 70 cm de altura de cores branca e marrom e que são geradas pelo acúmulo de cristais produzidos pela evaporação de águas salgadas subterrâneas.
Depois de pagarmos o ingresso, entramos nesse paraíso rodeado de vulcões onde se destaca o Láscar (5.592 m), um dos mais ativos da região andina. A maior erupção desse vulcão aconteceu em abril de 1993, com duração de 36 h. Seus efeitos foram sentidos na Argentina e no Brasil. Tivemos o privilégio de ver de pertinho o flamingo chileno, de uma cor rosada maravilhosa. Na verdade esse flamingo nasce branco e vai adquirindo essa cor rosada devido a sua dieta alimentar, que é exclusivamente feita do Artemia, um pequeno camarão avermelhado com menos de 1 cm de comprimento e capaz de tolerar grande teor de sal, altas temperaturas e baixas concentrações de oxigênio. Uma das aves mais lindas que vi até hoje! Show!!!
Saindo do Salar, um pouco à frente, já avistamos a rodovia de asfalto e resolvemos pegar um desvio por uma estrada de areia no meio do nada e que não nos levou a lugar nenhum (risos), pois quando estávamos quase chegando no asfalto a areia transformou-se num areal fofíssimo e não ia ter como passar, atolaríamos na certa!. Afffffffff......... Voltamos tudo (durante uns 20 minutos) e pegamos a estrada novamente em direção a Socaire (agora toda asfaltada e em ótimas condições). Paramos num mercadinho pra comprar pão, queijo, patê e suco, pois não tínhamos idéia de como seria nosso dia e se encontraríamos algum lugar pra almoçar. Então, melhor não arriscar né?
Logo depois do centrinho de Socaire pegamos estrada de chão até as Lagunas Altiplanicas. Apesar de ser de terra a estrada estava em boas condições e não foi difícil fazer o trajeto com nosso “1.000”. A paisagem aos poucos se transformou de deserto em um espetacular tapete formado por pequenos arbustos de cor amarela puxado para o ocre (ahhhh.... não sei explicar! risos) a perder de vista, até se encontrar com as montanhas congeladas. Esta maravilhosa paisagem se encontra a 110 km de San Pedro e a 4.000 manm, com uma vista deslumbrante do Salar, mais abaixo. Espetacular!
Seguindo em frente chegamos no portal de entrada para as lagoas, pagamos o ingresso e, depois de pensar que já não havia mais nada de “tão magnífico” para ser visto, nos deparamos com uma das paisagens mais fantásticas que vimos no Chile: as Lagunas Miscanti e Meñiques, que fazem parte da Reserva Nacional dos Flamingos e são administradas pela comunidade indígena de Socaire. Há muito tempo atrás esta paisagem era bem diferente, as águas provenientes do desgelo dos vulcões Miscanti e Meñiques escorriam até chegar ao Salar. Mas, devido à erupção do vulcão Meñiques, ocorrida há 1 milhão de anos, houve um estancamento dessas águas, dando origem a criação dessas duas lagoas de águas transparentes, com uma coloração azul petróleo e margens brancas, que no inverno ficam congeladas devido ao frio intenso. Um espetáculo de cores!
Na primeira lagoa (Miscanti) tivemos o privilégio de encontrar um bando de guanacos que passaram por nós desconfiados e se dirigiram até as águas geladas para matar a sede.
Quando estávamos apreciando a beleza da segunda lagoa (Meñiques), berço da Tagua Cornuda, uma espécie de ave aquática com sérios problemas de extinção e que se acasala neste lugar no inverno, recebemos a visita de uma raposa do deserto, ela nos observou por um bom tempo com curiosidade e, sem se despedir, virou-se e partiu. Ainda tenho seu olhar intenso registrado na minha memória!
Foi nesse cenário que almoçamos, livres, leves e soltas! Quer mais alguma coisa???
No retorno paramos em Toconao para ver se achávamos uma pousada mais em conta ou um lugar para acampar, já que em San Pedro as coisas eram meio caras. Enquanto Virna se ocupou dessa tarefa eu conversei com uma velha senhora de pele enrugada e seca, resultado do clima hostil do deserto durante seus 90 e tantos anos. Ela me disse que em toda sua vida não havia visto uma gota de chuva. Aliás, nem sabia o que era isso. Dá pra imaginar???
Não achamos nenhum lugar para dormir mas encontramos uma porção de vans que estavam voltando das lagoas altiplânicas. Quando estávamos perto de San Pedro, uma dessas vans passou por nós a toda e entrou numa ruazinha de terra à esquerda. Não tivemos dúvida e resolvemos seguí-la, já que havíamos visto no mapa uma tal de Laguna Cejas, que ficava por perto mas não tínhamos encontrado o acesso. A van disparou na nossa frente e o que era estrada de chão no início, se transformou em estrada de areia bem fofa após alguns quilômetros. Virna (que estava dirigindo no momento) ficou na maior “nóia” com medo de atolar o “golzinho 1000” no meio do deserto e eu só aos berros: ACELEEEEERAAAAAA.............!!!! hahahahaha........ muito engraçado! Rimos muito apesar da tensão, pois não podíamos perder a van de vista senão ficaríamos perdidas no meio do nada. Depois de alguns quilômetros comendo poeira atrás da van chegamos no que parecia ser uma cancela, pagamos a entrada e..... nossa!!! O lugar era lindo! A lagoa era de uma intensa cor azulada (um pouco pelo reflexo do céu) de águas transparentes e com as margens cristalizadas pelo sal, onde é possível banhar-se e desfrutar do efeito gravitacional produzido pela enorme quantidade de sal condensado. Mergulhamos nessa delícia, o corpo flutua facilmente o que proporciona um grande relaxamento. A água nos primeiros 30 cm é muito fria, quase congelante! Daí pra baixo vai se aquecendo gradualmente de forma que, se você ficar em pé, dos ombros até o peito é muito fria; do abdômen até um pouco abaixo dos joelhos é morninha, quase quente; e dos tornozelos para baixo é muito quente, quase insuportável! Uma sensação nunca sentida antes. Não perca!!!! Virna saiu rapidinho pois a água na superfície estava muito gelada meixxxxxxxmo e eu ainda fiquei por alguns minutos fazendo pose para as fotos. Ahhhhhhh....... uma dica: leve água para tirar o sal do corpo depois do banho, coisa que nós não sabíamos. Imagina como ficamos depois? hahahahaha.............
Quando estávamos no carro nos preparando para seguir a van que já estava de saída, uma moça se aproximou e nos disse:
- Hola! Mi nombre es Fabiola y es el conductor de la furgoneta. Noté que me están siguiendo y vine les invito a que vayan con nosotros a otra laguna muy bonita a apreciar la puesta del sol. ¿Vamos?
Ficamos surpresas e felizes ao mesmo tempo. Surpresas porque achávamos que nossa perseguição não tinha sido notada (quanta inocência! risos), e felizes por termos sido convidadas para uma turnê entre lagoas que nunca saberíamos da existência se não estivéssemos acompanhadas de guias locais. Show!!!!
Embarcamos no carro e lá fomos nós no encalço da van no meio do deserto por ruelas feitas de pura areia. Fabíola era meio maluca e corria muito! Também! Devia ser pouco acostumada a dirigir por essas bandas (risos). Além de muita poeira deixada pela van, tínhamos o sol bem na nossa cara, o que dificultava muito a visibilidade e por várias vezes erramos o caminho indo parar dentro de um areal mais denso e quase atolando. Afffffffff....... Aventura puraaaaaaaaa.............!!!
Nosso próximo destino era a Laguna Tebenquiche, mas antes passamos pelos chamados Ojos de Tebenquiche, que são buracos no meio do deserto cheios de água com um teor mais baixo de sal, muito profundos e que nos proporcionaram um reflexo maravilhoso do céu e de nós mesmas em suas águas escuras. Mui diferente!!!
Não nos demoramos muito, pois o sol já estava se pondo e tínhamos que chegar na lagoa Tebenquiche meio logo. Chegamos em cima do laço e o que vimos nos deixaram boquiabertas, um dos pôr do sol mais lindos que já vimos em nossas vidas! Uma mistura de laranja, branco e vermelho das montanhas com o azul intenso do céu se refletia no espelho de água da lagoa. Fantástico!!! Conforme o sol ia se pondo as cores iam mudando, passando para a púrpura com pinceladas em vermelho. Inenarrável!!! As fotos tentam mostrar a beleza do momento. Lindooooooooooooo...........!!! Aos poucos todas as outras vans que estavam lá com turistas foram embora, só ficando nós. O grupo que estava na van com Fabíola era bem simpático e nos integramos logo. Ficamos todos extasiados curtindo aquele visual até o anoitecer, sozinhos no meio do deserto! Vocês fazem idéia do que é isso?!?!?! Voltando a San Pedro aproveitamos a escuridão absoluta e paramos para contemplar o céu de Atacama. Vixi!!! Era uma profusão tão grande de estrelas que não dá nem pra contar, parecia que dava para pegá-las com as mãos. Com mais de 330 noites de tempo aberto e com um dos céus mais límpidos do planeta, o Deserto de Atacama é o paraíso dos astrônomos. Imagina?!?!?!
Chegamos na cidade ainda embasbacadas com tanta beleza vista num dia só e, pela cordialidade e simpatia de Fabíola, resolvemos fazer o passeio do dia seguinte com a agência onde ela trabalha. Iríamos para os Geysers Del Tatio e ela nos recomendou que não fôssemos de carro porque a estrada era muito ruim, só mesmo pra carros 4x4. Também nos aconselhou a não acampar, pois a temperatura durante a madrugada em San Pedro chegava a -4º. affffffffff.............
Bom, então ainda tínhamos que achar um lugar onde dormir e foi isso que fomos fazer. Batemos pernas por um bom tempo e achamos um albergue bem mais em conta, só que não tinha baño privado e nem serviam desayuno. Tuuuuuuuuuudo bem!!!! Quem liga pra essas coisas?!?!?! Depois de um merecido banho saímos para jantar e acabamos comendo um enorme e saboroso sanduíche. Voltamos rapidinho para o albergue e fomos dormir, afinal já passava das 23 h e tínhamos que acordar, mais tardar, às 3 da madruga, pois a van que nos levaria até os gêiseres sairia às 4 h. Afffffffff..........
Cama! (TV não tinha e também não fez falta nenhuma).
Não sentia nenhuma falta do cigarro. Ebaaaaaaaaa........ Estava conseguindo parar de fumar, mas sabia que ainda era cedo para comemorar. A vontade de fumar ainda voltaria, tinha certeza!
GASTOS:
1.900,00 – mercado para café da manhã;
4.000,00 – ingressos Laguna Chaxa;
2.600,00 – mercado para almoço;
4.000,00 – ingressos Lagunas Miscanti e Meñiques;
4.000,00 – ingressos Lagunas Cejas;
1.400,00 – água (será que é cara a água no deserto?!?!?!);
8.150,00 – jantar;
10.000,00 – albergue.
TOTAL = CLP 36.050,00 = R$ 144,90 (sobrando 829,09).
GERAL = R$ 3.041,81

18/08/07 – (sábado) – 16º dia – San Pedro de Atacama:
Acordamos às 3 h mas só conseguimos sair da cama às 3 h 30 min com muito esforço (risos). Tomamos nosso café no quarto (uma "dilícia"!!!), nos agasalhamos bem (tinham nos avisado que a temperatura chegaria a -10º no local) e fomos para a portaria esperar a van. Ficamos meio decepcionadas por não ser Fabíola que nos levaria neste passeio. Quem iria com a gente era Pablo, um cara super gente boa e tão simpático quanto Fabíola (conforme se mostrou no decorrer do dia). Conosco ainda foram alguns dos nossos recentes conhecidos do dia anterior. Os Geysers Del Tatio ficam a 99 km de San Pedro e a 4.320 manm. O fenômeno ocorre nas primeiras horas do dia, por isso tivemos que sair bem cedo, pois levaríamos cerca de 2 h para chegar ao local por estrada de terra bastante esburacada (ainda bem que não viemos de carro!!!). Chegamos numa espécie de portal, pagamos ingresso e desembarcamos pra esticar as pernas e fazer “pipi”. Seguimos de carro por mais uns minutos e chegamos ao nosso destino. El Tatio é o campo de gêiseres mais alto do mundo e está localizado na cordilheira andina. O vapor de água sai para a superfície através de fissuras na crosta terrestre, alcançando uma temperatura de 85º. Ao amanhecer, com a temperatura abaixo de zero, podemos apreciar um espetáculo impressionante e maravilhoso gerado pelos violentos fluxos de vapor que se elevam a mais de 60 metros de altura. Apesar da alta temperatura da água o vapor lançado aos céus não aquece o lugar e o borrifo dos gêiseres forma várias poças de água no chão que se congelam rapidamente devido ao intenso frio (-11º naquele dia! brrrrrrrrrr............).
Os gêiseres se originam pelo contato das águas geladas subterrâneas dos Andes com as rochas pra lá de quentes, que são aquecidas pelo magma do vulcão que dá nome ao lugar. Esses mananciais quentes dão origem ao Rio Salado que, após 80 km, se une ao Rio Loa. Este campo geotérmico é formado por 40 gêiseres, 60 termas e 70 “fumarolas” em uma extensão de 3 km2.
Ficamos admirando os gêiseres por um bom tempo ainda enquanto Pablo preparava nosso desayuno. Nos reunimos em volta de uma mesa perto da van e fomos servidas com um delicioso café fumegante acompanhado de chocolate, sanduíche e ovos quentinhos que, enquanto saboreávamos o sanduíche, ajudavam a aquecer nossas mãos quase congeladas (risos).
Embarcamos na van e Pablo nos levou até um local onde haviam várias crateras “pequerruchas” cheias de magma vulcânico em ebulição. Pintamos nosso nariz e nossas mãos com aquela “lama quente” e fomos até uma montanha de pedra onde pudemos observar vários vizcachas (uma espécie de coelho andino) tomando banho de sol. Eu e mais uma garota levamos um bom tempo para conseguir identificá-los em meio às pedras, eram todos da mesma tonalidade! (risos). Mais adiante um bando de guanacos nos observava de longe. Seguimos em direção as piscinas termais onde a temperatura da água varia entre 25º a 35º e é possível tomar banho, mas não nos arriscamos a tirar a roupa, afinal a temperatura fora ainda estava abaixo de zero (eu hein?!?!?! risos). Ali perto pudemos observar um dos maiores gêiseres visto até o momento. Da cratera borbulhante jorravam violentos jatos de água que atingiam cerca de 50 cm de altura. Em volta dessas crateras haviam vários poças de água fervendo margeadas de sais minerais, o que dava um colorido especial ao lugar. Mui belo!!!
Ao regressar dos gêiseres, tivemos a oportunidade de apreciar a bela paisagem por onde passamos durante a madrugada. Uma estrada tortuosa por entre as montanhas nos proporcionava um visual fantástico! A cada curva, subida ou descida descortinavam-se a nossa frente lagoas de cor esmeralda ou de um azul intenso misturado com o branco da neve e com o ocre da vegetação rasteira (lindo!), bandos de guanacos, mais vizcachas, diversas aves e gansos andinos em lagos semicongelados, burros selvagens e uma infinidade de lhamas. Dentro desse cenário avistamos de cima das montanhas o pequeno povoado de Machuca, que do alto mais parecia uma cidade de brinquedo, feita de massinha modelável (risos). Localizado num pequeno vale a mais de 4.000 manm, Machuca possui algumas parcas casas e uma charmosa igrejinha construída em adobe. O povoado é praticamente desabitado devido à drástica emigração das famílias, situação que, graças a diversos projetos de infra-estrutura da municipalidade de San Pedro, está sendo revertido lentamente com o retorno de algumas famílias, reativando desta forma as atividades agrícolas, pastoris e de produção de queijo. E foi nesse lugar que degustamos os mais saborosos espetinhos de carne de lhama. Uma delícia!
Novamente na estrada a paisagem vai gradativamente se transformando, passando das lagoas com águas cristalinas a um areal desértico formado por montes de rochas esburacadas numa imensidão incomensurável, sempre acompanhadas pelo majestoso Licancabur até chegarmos novamente em San Pedro, por volta das 13 h. Nos despedimos da galera e de Pablo, trocamos e-mail e fomos almoçar rapidinho pois a tarde ainda prometia... Eu comi salmão grelhado com arroz e Virna optou por macarronada ao molho pesto. Passeamos pela praça, compramos creme hidratante (o ressecamento tava pegando), tomamos sorvete, compramos água e ligamos para casa dando notícias.
Foi uma novela pra achar o posto de gasolina (risos). O lugar é muito bem escondido e sem sinalização nenhuma em lugar algum. Minha nossa!!! Perdemos mais de 30 minutos pra achar o dito cujo e levamos um susto: no Chile a gasolina consegue ser ainda mais cara que no Brasil. Depois de abastecer zarpamos em direção ao Valle de la Muerte, localizado a 2 km de San Pedro e considerada a região mais seca do planeta. Conforme determina a secura do Deserto do Atacama, ninguém pode viver no seu Vale da Morte, mas é possível admirá-lo de perto. O Vale é um festival de cores em eterna troca de formas, o vento forte carregado de areia fina castiga nosso rosto e é quase insuportável, mas a beleza do lugar compensa o sofrimento. Exuberante e belo, a quantidade de formas e esculturas naturais produzidas neste trecho do deserto é impressionante. O sedimento do solo é composto de sal e gesso, entre outros minerais, o que dá ao local uma coloração de rara beleza, entre o rosa, o amarelo e o branco.
Saímos dali e nos dirigimos para o Valle de la Luna, a 19 km de San Pedro e a 2.550 manm. Erramos o caminho e quase fomos parar num campo minado (hahahaha............). Saímos dali rapidinho antes de passarmos em cima de alguma mina (já pensou!!! risos). Chegamos ao portal do Vale, pagamos o ingresso e entramos (deu pra notar que se paga ingresso em cada atração? Todos os atrativos do Deserto do Atacama são administrados pelas comunidades indígenas locais, que têm a missão de cuidar deste Patrimônio Natural da Humanidade, gerando o menor impacto ambiental possível). O Vale da Lua é famoso por sua formação parecida com a superfície lunar, que se originou por formações e dobras de capas de sedimentos horizontais de um antigo salar. Sobre essas dobras se depositaram frações de rocha e cinza devido a atividade vulcânica do lugar. Hoje em dia está constituído por rochas sedimentares com intercalações de sal, gesso, clorato e argila. O vento e a ação de outros agentes atmosféricos talharam formas esculturais com montanhas afiadas, montículos e dunas que o transformaram em uma paisagem extraordinária. A ausência de vida animal e vegetal e a falta de umidade fazem do Vale da Lua o lugar mais inóspito do planeta.
A primeira atração que visitamos foi Los Vigilantes o Tres Marias, uma formação rochosa que é testemunho dos intensos processos de erosão e desgaste das rochas, sua composição é de argila, sal e quartzo e tem aproximadamente 1 milhão de anos. Depois andamos por uma caverna onde foi possível admirar vários cristais de sal. Saímos dali rapidinho pois já estava anoitecendo e queríamos ver o pôr do sol do alto do Sendero Duna Mayor – a maior duna do vale que se originou do acúmulo de areia devido a existência de barreiras naturais. Subimos a duna acompanhadas por uma multidão de pessoas, chegando lá em cima Virna seguiu em frente para apreciar o visual de uma montanha e eu virei a direita e caminhei pela crista da duna até outra montanha. O cenário é show de bola! O pôr do sol é apreciado por centenas de turistas a partir do topo das montanhas e de onde se tem uma vista panorâmica da belíssima formação geológica natural do Anfiteatro, das cordilheiras (Domeyko e dos Andes) e da cadeia de vulcões em atividade que circundam o vale, como o Licancabur, Láscar, Acamarachi e Águas Calientes.
À medida que o sol vai se pondo a nossa frente, atrás de nós a coloração das montanhas vai tomando nuances que vão do amarelo ouro ao escarlate. O esplendor da paisagem é tão grande que chega a emocionar, causando arrepios e arrancando lágrimas de meus olhos. Uma salva de palmas quase solitária, somente acompanhada de mais um rapaz ao longe (apesar de ter muita gente no local) encerrou esse espetáculo deslumbrante que a natureza repete a cada novo dia.
Virna me encontrou na metade da duna e nos abraçamos num misto de encanto e deslumbramento, sorrindo de felicidade. Valeu à pena, he, he...
Voltamos a San Pedro, passamos em um mercado para comprar nosso jantar (pão, queijo e iogurte) e fomos pro albergue. Estávamos pregadas! Também??!?! Estávamos acordadas desde as 3 da madruga! Banho, jantar e cama...
GASTOS:
20.000,00 – agência passeio gêiseres;
7.000,00 – ingressos gêiseres;
2.000,00 – espetinhos;
2.500,00 – gorjeta;
10.600,00 – almoço + gorjeta;
5.100,00 – sorvete + água + telefone;
26.000,00 – posto San Pedro de Atacama (4.380 km);
2.000,00 – ingresso Vale da Lua;
6.940,00 – mercado;
10.000,00 – albergue.
TOTAL = CLP 92.140,00 = R$ 370,34 (sobrando 716,81).
GERAL = R$ 3.412,15

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